Já
estão à venda nas ruas e avenidas de Fortaleza os bonecos que
tradicionalmente serão maltratados e queimados no próximo Sábado
de Aleluia, que ocorrerá a pouco menos de duas semanas. Neste ano,
nomes envolvidos na Operação Lava-Jato e a presidente Dilma
Rousseff estarão entre os principais alvos da malhação de judas.
Na
oficina do artesão Jean Calos, 39, mais conhecido como Zé do Judas,
já tomou forma o boneco com um dos olhos mais baixo que o outro. A
figura reproduzida é de Nestor Cerveró, ex-diretor da área
internacional da Petrobras e um dos investigados no esquema de
corrupção que envolve a estatal.
Carlos
afirma que já foram encomendados cinco bonecos da presidente da
República e estão em processo de fabricação judas de outras
pessoas envolvidas na Lava-Jato, os quais ele prefere não citar para
evitar desavenças. "Já aconteceu de político vir aqui, pedir
para não fazer o boneco e nos dar uma ponta (dinheiro). Mas não tem
jeito. O pessoal pede e nós fazemos", diz.
A
equipe do Zé do Judas chega a confeccionar cerca de 250 bonecos por
ano para a temporada da Semana Santa. Para dar conta da demanda, dez
pessoas se dividem em diversas etapas para a fabricação dos
bonecos. "Um serra, o outro preenche com retalho, o outro
parafusa, o outro prega, o outro veste, e eu fico com a parte das
cabeças e monitorando, vendo se está tudo certo", explica.
Os
preços variam de R$ 100 a R$ 300. Os mais baratos são vestidos com
calça jeans, camisa social e gravata. Os mais caros são
personalizados, com paletó e gravata, que devem ser pedidos com
cinco dias de antecedência.
As
primeiras vendas e encomendas para a malhação de Judas no próximo
dia 4 de abril já começaram, mas é na quinta-feira anterior ao
feriadão quando a maioria dos bonecos deve ser comercializada. Nesse
dia, Jean Carlos costuma vender 80 Judas. "Na quinta, quando dá
5h, as pessoas já estão batendo na minha porta, porque viajam
cedo", afirma.
Os
principais clientes da oficina do Zé do Judas - situada na Rua
Capitão Aragão, próximo ao cruzamento com a Av. Raul Barbosa - são
pessoas que vão passar o feriado da Semana Santa no Interior e até
fora do Estado. Alguns deles, de cidades como Morada Nova e Mossoró,
no Rio Grande do Norte, compram os produtos de Jean Carlos há cerca
de 12 anos.
Tradição
A
malhação de judas é uma prática que foi trazida à América
Latina por portugueses e espanhóis na época da colonização e
ainda é preservada no Brasil, principalmente em cidades do Interior.
O
costume popular católico simboliza o julgamento e a morte do
apóstolo Judas Iscariotes. A origem da tradição é associada a
antigos rituais pagãos antes de Cristo e à época da Inquisição e
da perseguição de judeus durante a Idade Média.
Fique
por dentro
Fabricação
pode demorar até duas horas
A
fabricação do judas envolve a montagem do esqueleto, feito de
madeiras serradas, como caibro e ripa. As pernas, braços e o tronco
são presos com pregos e parafusos. A estrutura recebe vários
pedaços de pano. Por último, o corpo recebe as roupas. O processo
demora duas horas.
A
cabeça, de papel machê, é a parte mais demorada, pois deve passar
um mês secando para endurecer.
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